Minha página no Facebook foi novamente bloqueada por uma semana devido a uma denúncia da comunidade do Facebook, ou seja, de alguém que me solicitou Amizade e se qualificou como Amigo com a intenção de demonstrar sua intolerância à primeira postagem inadequada ao seu elevado padrão moral que eu fizesse. A imagem de nudez que levou à denúncia não apareceu, desta vez, no aviso de bloqueio:
Contudo, a única imagem de nudez que postei recentemente, e que acredito que tenha levado o Amigo a uma denúncia anônima ao Facebook foi o GIF de um dos experimentos realizados no fim do século XIX pelo pioneiro do cinema Eadweard Muybridge (1830-1904), para o estudo do movimento do corpo humano, e no qual um homem faz exercícios nu, como neste GIF da Wikimedia:
GIF: Animal locomotion. Plate 294 (Boston Public Library). Fonte: Wikimedia / Domínio Público / Public Domain.
O Facebook anuncia no bloqueio que restringiu a exposição de nudez, e que mesmo descrições de atos sexuais podem ser removidas. Essas restrições são afrouxadas, contudo, de maneira bizarra, quando a publicação do conteúdo se der por motivos educativos, humorísticos ou satíricos. E se tornam caso de polícia se a postagem envolver exploração ou violência sexual:
No caso do GIF de Muybridge, mesmo as bizarras exceções citadas, os tão subjetivos motivos educativos, humorísticos ou satíricos, foram sobejamente ignorados: divulgar a história do cinema não seria um motivo educativo, e a dimensão humorística ou satírica naturalmente presente nas imagens do passado não mereceu consideração. Mas para garantir um ambiente seguro aos seus usuários, o setor de bloqueio do Facebook inclui uma espécie de confessionário, no qual o réu é convidado a limpar suas sujeiras:
Após essa etapa dolorosa de confissão, arrependimento e remoção das postagens infames, o réu recebe, finalmente, a pena para os seus pecados, acrescentada de novas ameças de punição, caso ele persista em cometer novos pecados:
Além de não poder publicar nada em sua página ou em páginas alheias, o bloqueado não pode avisar seus amigos verdadeiros por mensagem pessoal de que se encontra bloqueado, não pode sequer curtir uma página ou uma postagem. Ele só pode acompanhar em silêncio, sem poder interagir, as postagens alheias, como um excluído da comunidade, sem direito a voz, como uma anti-pessoa. Se ele, inadvertidamente, curte alguma coisa que leu, recebe a seguinte mensagem:
Enfim, nada como impor uma regra para seus usuários, criar ao mesmo tempo exceções à mesma, interpretando a seu modo tanto a regra quanto as exceções, para punir quem bem entender, sem qualquer transparência, com base apenas em denúncias anônimas. O processo de bloqueio do Facebook lembra os processos da Santa Inquisição.
Quando eu retornar ao Facebook, excluirei os Amigos que não conheço, começando por aqueles que solicitaram Amizade nos últimos meses. E incluirei no expurgo os Amigos que nunca se manifestaram, permanecendo em situação de ocultamento, ou que já demonstraram possuir um padrão moral demasiado elevado para minhas postagens obscenas sobre a história da arte e do cinema.